27/09/2015

white blank page

é neste dia que desisto. talvez não o devesse fazer tão cedo, é certo, ou talvez já o devesse ter feito mas isso demonstraria falta de carácter e indecisão - oh, essas tenho até demais! - mas eu já não aguento olhar para o vazio que é a tua expressão ao veres que ali estou.


é nisso que penso, nesse vazio imenso. essa raiva contida que faz tudo para me afastar. juro, aposto que sofres por teres essa raiva e não a saberes retirar de ti. acredita, isso é o que nos (?) matou, não foi por mais ou menos erros, foi essa raiva incomensurável. como é que consegues viver assim, como? eu já não consigo.

um dia vais esquecer isto, eu nunca vou esquecer isto. não há problema, é simplesmente a verdade. hoje somos uma voz, amanhã somos o silêncio - e nem nesse silêncio me vou esquecer do teu olhar - caso ainda não tenhas percebido é aí que todos se fascinam, não é num prazer carnal que só os idiotas contemplam; a tua alma flameja nos teus olhos, é tão inocente o teu olhar que te leio toda a alma em segundos... e o problema é exactamente quando essa leitura apenas me demonstra raiva... será por mim? ou será por ti? questões que nunca vou saber (será que quero?) e que esgotaram a minha própria alma. estou a perder o meu olhar, lentamente, enquanto perco o teu.


prometi a mim mesmo que ia ser breve, curto, não preciso de mais nada sem ser isso, apenas esclarecer-me a mim próprio numa página branca, vazia. não guardo rancor - aliás, quem seria eu se fizesse algo do género? -, guardo sim a ténue memória de um olhar que um dia me achou um senhor ou uma criança ou um adolescente ou um jovem adulto ou o que quer que fosse e, sendo alguma dessas, talvez estivesse certo. procurei por esse olhar de novo mas nada... apenas raiva. e estou completamente exausto.


directa ou indirectamente já te dei a felicidade que te queria - e quero - dar e isso deixa-me orgulhoso, é a verdade. o problema é que essa felicidade não é directamente comigo - se assim o fosse irias repugná-la. por tudo isto e muito, muito mais, decido hoje despegar-me de mim próprio, já que vou continuar a pensar no mesmo vou arrancar-me do meu próprio pensamento. vou deixar esta casca e vou tentar voar - criar uma nova página branca, vazia.

todos nós devemos ter uma musa - a minha és tu, não eras, és e continuarás a ser; isso devia dar-me forças para continuar, aliás, parte de mim o fará, mas descobri a verdade de tudo: eu nunca vou ser teu ou para ti ou de ti, não é que tu não me mereças ou eu não te mereça, é simplesmente porque o meu eu já não aguenta a indecisão pendente desde este breve sempre. por isso, minha musa, não posso continuar a carregar o peso platónico que carrego - somos muito diferentes. é assim que se mata um sonho.

1 comentário:

  1. É assim que se matam sonhos...e no olhar que se pode ver a alma ver - se - tudo a menos que se queira permanecer cego

    ResponderEliminar