27/09/2015

white blank page

é neste dia que desisto. talvez não o devesse fazer tão cedo, é certo, ou talvez já o devesse ter feito mas isso demonstraria falta de carácter e indecisão - oh, essas tenho até demais! - mas eu já não aguento olhar para o vazio que é a tua expressão ao veres que ali estou.


é nisso que penso, nesse vazio imenso. essa raiva contida que faz tudo para me afastar. juro, aposto que sofres por teres essa raiva e não a saberes retirar de ti. acredita, isso é o que nos (?) matou, não foi por mais ou menos erros, foi essa raiva incomensurável. como é que consegues viver assim, como? eu já não consigo.

um dia vais esquecer isto, eu nunca vou esquecer isto. não há problema, é simplesmente a verdade. hoje somos uma voz, amanhã somos o silêncio - e nem nesse silêncio me vou esquecer do teu olhar - caso ainda não tenhas percebido é aí que todos se fascinam, não é num prazer carnal que só os idiotas contemplam; a tua alma flameja nos teus olhos, é tão inocente o teu olhar que te leio toda a alma em segundos... e o problema é exactamente quando essa leitura apenas me demonstra raiva... será por mim? ou será por ti? questões que nunca vou saber (será que quero?) e que esgotaram a minha própria alma. estou a perder o meu olhar, lentamente, enquanto perco o teu.


prometi a mim mesmo que ia ser breve, curto, não preciso de mais nada sem ser isso, apenas esclarecer-me a mim próprio numa página branca, vazia. não guardo rancor - aliás, quem seria eu se fizesse algo do género? -, guardo sim a ténue memória de um olhar que um dia me achou um senhor ou uma criança ou um adolescente ou um jovem adulto ou o que quer que fosse e, sendo alguma dessas, talvez estivesse certo. procurei por esse olhar de novo mas nada... apenas raiva. e estou completamente exausto.


directa ou indirectamente já te dei a felicidade que te queria - e quero - dar e isso deixa-me orgulhoso, é a verdade. o problema é que essa felicidade não é directamente comigo - se assim o fosse irias repugná-la. por tudo isto e muito, muito mais, decido hoje despegar-me de mim próprio, já que vou continuar a pensar no mesmo vou arrancar-me do meu próprio pensamento. vou deixar esta casca e vou tentar voar - criar uma nova página branca, vazia.

todos nós devemos ter uma musa - a minha és tu, não eras, és e continuarás a ser; isso devia dar-me forças para continuar, aliás, parte de mim o fará, mas descobri a verdade de tudo: eu nunca vou ser teu ou para ti ou de ti, não é que tu não me mereças ou eu não te mereça, é simplesmente porque o meu eu já não aguenta a indecisão pendente desde este breve sempre. por isso, minha musa, não posso continuar a carregar o peso platónico que carrego - somos muito diferentes. é assim que se mata um sonho.

02/08/2015

autópsia ao sentimento

todos os dias se perguntam os porquês a algo que nos incomoda de modo a poder crescer de alguma maneira o nosso eu. este crescimento interior define uma barreira imunológica aos erros do passado, tentando fazer com que nunca sejam repetidos. mas há sempre a fase da verdade inegável: que tremenda besteira que isto é, uma estupidez de todo o tamanho.
comecemos assim então. quantas vezes nos perguntamos porque não esquecemos algo? se nos mata teremos que arrancar, teremos que esquecer de vez. e quantas vezes isto foi verdade? zero. e porquê? porque o ser é inferior ao sentir, muito inferior. até os animais irracionais, que são, fogem dos humanos que os tentam matar, ou seja, sentem primeiramente, muito mais do que são. isto devia ser a coisa mais lógica de sempre ou não será verdade? o sentimento não se pensa, acontece, faz-se em si próprio e torna-se depois em pensamentos, isso sim.
matar um sentimento é completamente impossível, por outras palavras. ele não morre, adormece, pronto a reaparecer a qualquer instante. seja qual ele for! no entanto, eu quero autopsiar aqui um sentimento, fazendo com que um nasça - deve ser talvez a única maneira de expulsar, mesmo que momentaneamente, um desses dito cujos. mas cuidado: o expulso e o nascido vão sempre, mas sempre, estar de braços dados - se um abalar ou descair, o outro vai surgir mais forte.



se há algo que eu não entendo é como será possível que uma pessoa siga outra e permita que essa outra lhe trace a vida e o que fazer desta mesma - aliás, acho isto, de um lado, de tamanha hipocrisia e, de outro, de uma falta de vontade inimaginável. abre os olhos - não controlas nada de ti. és sempre sugada, sempre arrastada para as situações. em zero vezes te vi a guiar o volante, com medo da guinada da vida, mas esta é natural e é impossível fugir-lhe. quando aprendes isso?
talvez eu seja uma mentira, sim. mas se tal for verdade tu és uma ainda maior. como traçar uma fita que meça as mentiras? talvez seja assim - ver como é que as pessoas conduzem o autocarro que é a sua vida. tu? tens motoristas. zero, sempre zero. e tem cuidado porque, quando se acabarem os braços que te carreguem ou quando vires que eles não te carregam na direcção que queres vais ter que aprender abruptamente a conduzir; quem te avisa amigo é, ou algo do género.
passemos a assuntos sérios. será que, na verdade, tu consegues sentir? com o que pensas, com o que fazes, com o que te dizem, com o que inventas, como te controlas? será que não percebeste ainda que vozes de burro não chegam ao céu? vou-te explicar o que és: "carne para canhão". é tudo o que és. e eu. e todos. somos todos carne para canhão. porém, eu tenho uma diferença que nos faz completamente diferentes, uma variável fulcral que me torna no que sou: o que sinto, sinto, não tenho vergonha disso. o que quero, quero. o que faço, faço. não preciso que me digam o que fazer - talvez às vezes poderei precisar de ajuda pois ninguém sabe tudo mas, com boa vontade, tudo se consegue. tu? dizem-te o que fazer. sabes o que isso é? uma mentira. porquê? porque te cultivam sentimentos que não são teus. sabes o que isso é? é uma estupidez. sabes porquê? porque tu quase nunca foste tu! é difícil de perceber isso?
dizem que as distâncias matam sentimentos - não matam, adormecem. quantas vezes tenho que repetir isto? eu até podia perguntar descaradamente se alguma vez morri em ti mas já sei a resposta, sempre a soube e sempre a hei de saber. mas tu não ouves o teu próprio eu, tu não te sentes, tremes como varas verdes de te sentires por segundos, há algo que tenho guardado para ti há anos e hei de guardar os anos que forem precisos - com uma condição: tens que te sentir. tu ainda não sabes, que ridículo. tens vergonha de admitir tudo, tens medo de tudo, não te guias. que ridículo.
consegui alterar assim o que sentia por ti. troquei por esperança. não é a esperança de estar contigo - isso nem tenho nem terei, é a esperança que um dia sejas, no mínimo, um ser humano. não entendes? é fácil. os seres que são mandados não são os humanos, são outros seres. mas mesmo esses, quando sentem, ninguém manda neles... conclusão? não és. não sentes, não reparas, não és. só respiras. quando te fazes alguém? juro, tenho uma esperança enorme de ver isso.

(se não for nada disto, diz-me que andas tu a fazer neste mundo para conseguires fazer tudo errado. e já não é só aos meus olhos; aliás, nunca foi, eu é que acordei tarde. mas, de todas as formas, aqui tens a tua autópsia.)

31/07/2015

contágio

a rotina diária é o que ela é - uma rotina diária. o problema destas é que deixam de ser facilmente largadas, contagiam a vida. que significa isto, por outras palavras?

mais um dia das nossas vidas. mais um acordar, um viver, um dormir. mais um tempo em que tentamos, conseguimos, falhamos. mais um dia de conquistas e derrotas. simplesmente mais um dia ou será algo mais? uma pergunta que deveria ser fácil de responder: qual foi a primeira coisa que fizeste ao acordar? e a que horas conseguiste sorrir pela primeira vez?
se há algo que perdemos ao longo dos dias é a capacidade de sentir. sim, o que nos é próprio, o sentimento, fica cada vez mais entorpecido ao longo da vida. é fácil encontrar um exemplo para tal: quantas vezes sorris por sorrir? e quando eras criança? perdemos capacidades que nos são inatas, ganhamos medo de sentir, entramos numa rotina vertiginosa de escapar ao sentimento em geral e ficamos tão profissionais em tais coisas que, quando vemos alguém a sentir, olhamos de lado, como se fosse, todavia, contagioso. será?
comunicação, por exemplo. em tenra idade descobrimos partes do que somos e partes do que queremos ser, acabando por alterar todas as outras para que se adaptem a estas. para quê? que tolices fazemos por devaneios mentais que temos. nem todos comunicam da mesma maneira mas há uma linguagem universal - ou erro muito? quando surge a felicidade algures vê-se que esta se alastra para outros, não importa o motivo desta. não precisamos falar todos com todos, não precisamos tocar em todos mas quando aquele olhar se cruza aquele sorriso se nota - aí nota-se que conseguimos comunicar com alguém, que nos conhecemos melhor e deixamos que nos conheçam ao mesmo tempo - ou isso ou um desejo disso, claro, um pedido silencioso para algo.

não sei se preciso fazer dois mais dois, mas cá vai.

hoje comecei o dia com um sorriso. não saiu bem, claro, foi o primeiro dia - custa! - mas sei que amanhã será melhor. o que aconteceu? nada de errado! aliás, tudo correu melhor que o normal. a meio do dia já sorrira muitas mais vezes, elogiei até mesmo as pessoas, brinquei com algumas - criancices controladas - e ao fim do dia posso dizer que cruzei olhares intencionais, que toquei em pessoas sem sequer tocar. e, na verdade, posso dizer uma coisa que quase nunca se consegue dizer: gerei alegria, sorrisos, felicidade. quantas vezes dissemos isso na vida? não será esta a hora de dizer a alguém "és bonito/a", "estás muito bem assim" ou, foda-se, mesmo à pedreiro, "és toda boa"? o que há de errado com isso?

o problema é que nos tornamos apáticos, quase inanimados, e começamos o dia a pensar que amanhã virá outro. poderá vir, sim. mas hoje já o perdeste. só por pensar assim. j.s. dizia "não tenhamos pressa, mas não percamos tempo" e, na verdade, tudo o que fazemos hoje em dia é perder o tempo com merdices, com fantasmas, com chamas mortas. que tal contagiar o mundo de hoje, só hoje? qual será o mal? um mundo melhor?


sorri pá. qual é o stress?

27/07/2015

(instant crush)

passei tanto tempo a pensar em ti que me esqueci de mim próprio. queria ver o mundo de formas diferentes e a tua pareceu ser a perfeita e esqueci-me da regra principal: eu é que o veria mesmo assim. seria ao teu lado, claro, mas seria eu a ver. esqueci-me que o eu aqui seria mais forte que o tu - porque nunca pensaste sequer na eventualidade de um nós. novamente, passei o tempo todo a pensar em ti, mesmo que ocorresse que eu existia, mas sempre foi em ti que pensei.
e no que deu? fiquei mal visto por ti; mas o pior é que fiquei mal visto por mim mesmo. não sabia já pensar em mim, que doença esta. e para quê? para ficar pior ainda, para ter que pensar novamente em tudo e pensar onde errei, pensar onde me desviei do que queria. e sabes o que percebi? que o erro não foi meu - melhor, eu errei, é certo, mas o pior erro foi teu. e sabes qual foi? desperdiçares algo que amanhã te poderás arrepender. e sabes porque o fizeste? por orgulho. ou melhor, porque nem sequer te importaste, porque pensaste que eu iria desaparecer. sabes qual é a parte engraçada? é que o mundo dá voltas e não quer que eu desapareça, seja da maneira que for.

mas há algo ainda pior que tudo isto. é que eu não vou esquecer nada. e tu também não. sabes porquê? porque, na verdade, desde que disseste o teu fraco adeus, eu percebi essa fraqueza e disse-te um até já. só falta saber se ganhas fora para esse adeus ou se ficaste a pensar no mesmo que eu, num nós.
que ironia de vida. se calhar o nosso problema é o mesmo, só que não o admites. tem piada não tem? juro-te uma coisa, eu ri-me, genuinamente, pela primeira vez, após mais de um mês. que ironia de vida!

22/07/2015

para sempre e o bloqueio mental criado pelo choque de duas versões da mesma ocorrência


não te posso dar o para sempre, nunca o pude, nunca o poderei. o para sempre é o pior que te poderia dar. o meu para sempre não é para sempre; quebra, esgota, desestabiliza, desespera, rasga, mata, esquece, perdoa, renasce, redefine, recomeça. o meu para sempre nem sequer é meu, é algo que nem sequer se define, junta-se a outro para sempre e enfraquece, tanto a si mesmo como a mim, destrói-me, rompe-me, faz-me fugir, faz-me desligar.


não te posso dar o para sempre, nunca o pude, nunca o poderei. o para sempre ocorre nos teus olhos e nos meus, nos momentos em que se tocam virtualmente, a chama que acende e apaga, acende e apaga, consigo imaginá-la para sempre, o meu para sempre. quando nos cruzamos sinto-o para sempre, o momento que dura para sempre, que se arrasta e que não me larga, que fica para sempre. mas esse para sempre é meu, não teu, e o teu para sempre foi pouco para o meu, o meu prolongou-se nesse momento, o teu enterrou-o com a tua saída.

não te posso dar o para sempre, nunca o pude, nunca o poderei. tu nunca quiseste o meu para sempre, quiseste sempre o teu. talvez o teu fosse momentâneo, talvez o meu assim o fosse, mas tu nunca quiseste saber do meu para sempre; não te posso dar o que nunca quiseste. por mais que eu escreva, por mais que eu pense, nem falar me deixas, nem perto, nem longe, nem hoje, nem nunca - talvez seja esse o para sempre que tens para me oferecer.

não te posso dar o para sempre, nunca o pude, nunca o poderei. a única coisa que te posso dar são os meus fragmentos, linhas partidas, de memórias do que fomos, éramos, somos. posso-te dar o meu para sempre - não é para sempre, mas sente-se para sempre, guarda-se para sempre, parte-se para sempre, perde-se para sempre. é teu para sempre.

02/07/2015

blackout ou a consciência de um impossível amanhã

já tive o mundo na mão. já andei por esses caminhos fora e despertei multidões para a minha passagem, para a visão de um homem, para um caminho do mesmo. e hoje, que sou eu?
a perspicácia levou-me longe, com audácia avancei ainda mais, com força movi mundos e com a vontade cheguei ao fim do meu ser. não sei porque fiz metade do que fiz na minha vida, talvez por nem me recordar, talvez por já não me interessar. a verdade é que chego ao ponto em que, ao olhar para trás, vejo que poderei ter perdido mais que o que ganhei.
no meu tempo não se queria estudar - queria-se sair da pátria, go abroad, tudo para fugir. e eu também assim era! e assim o fiz. fui o mais longe que conseguia, com os poucos estudos que tinha, com um sonho de ser algo e de fazer algo. hoje penso que não deveria ter ido... deixei a minha família e fui de encontro às adversidades além fronteiras, de pessoas que me olharam de lado, por aí fora... fui de encontro à saudade das minhas raízes, da minha família - sim, porque já tinha família mais que formada naquela altura. para quê? ao fim e ao cabo, todas as decisões são questionáveis.
voltei, é certo, mas voltei para o mesmo. o sonho que tinha já era impossível de realizar e o que queria fazer, a cada dia que passa, se torna mais complicado. mesmo assim continuava a ser acarinhado, a ser apreciado, e talvez tenha sido essa a minha ruína. foi aí que perdi a minha família; é certo que ainda os tenho mas a separação era inevitável, gostava mais de mim e do que me proporcionavam do que da minha família, isto pensando conscientemente, mal eu sabia que o inconsciente me diria uma história diferente...
passaram-se agora muitos anos. o sonho morreu e o que queria fazer já não o faço, grito para que o tentem fazer por mim... alegra-me ver os meus filhos, já crescidos, adultos, e ver que estão a traçar objectivos para as suas vidas. estão a conseguir atingir o que querem. estão a fabricar a sua vida, tal como eu a tentei fabricar. de uma coisa não me podem culpar: sempre os avisei a não fazerem o mesmo que eu ou, se o fizessem, a estarem bem estáveis. e também nunca lhes neguei nada que pudesse dispensar. tentei ser um bom pai, mesmo não tendo um - melhor, nem saber quem seria o meu - e não sei até que ponto o consegui, mas a cada dia que passa tento-me adaptar a um amanhã dos meus filhos. é esta a minha realidade agora.

já não conto os meus anos - "sessentas" parece um número muito pesado. apenas conto os anos que não passei com quem devia ter passado. agora sim, olho para trás, desdramatizo tudo e vejo que talvez seja o maior culpado do que aconteceu à minha vida. agora vejo o quão errado estava em tantas decisões da minha vida mas, especialmente, vejo que apenas um erro faz com que tudo desabe, vejo os meus amigos de longa data com alguém, highschool sweethearts ou não, têm alguém; e eu, com quem me partilho?
se algo quero que se aprenda comigo é que a vida, ao longo dos anos, pode ser ditada apenas por um erro, só nos cabe tentar pedir perdão e esperar que não tenha sido o fim da linha. há tanto a dizer que não nos podemos guiar por uma escolha de falsa longevidade. no fim, a imortalidade está no que deixamos em terra, não em nós. se me fosse possível falar no amor diria que o vou deixar em terra, mas que este nunca mais será correspondido pois, quando era, fui incapaz de pedir perdão. quanto eu me arrependo...

se houvesse um futuro para o impossível eu batalharia, com a força que me resta, para atingir essa meta. eu caminhava até ao fim e voltava ao início para não fazer o que fiz. a verdade é que já não sou o que era e esta distância foi apenas traçada pelo tempo - o mesmo que corria tão bem a meu favor...


e se eu disser que, para ter tudo de volta, apenas tinha que ter pedido perdão no momento certo?

o sentimento mais raro, o mais puro, o melhor e, por mais que custe, o mais doloroso. e eu nunca mais o verei.
novamente me despeço, sozinho. até amanhã e, às 6:30h acordo-te.



(crónicas de uma vida.)

23/06/2015

se não houver amanhã - a apoteose da raiva e do pesar

somos tão indecentes, tão mesquinhos. nem nos apercebemos da nossa triste mortalidade. nem sentimos que podemos não voltar. nem sentimos que somos feitos de pó, pó de angústias, de memórias, de falhas sistemáticas, pó que vem e vai, pó que nunca fica. não ficamos, vamos sendo algo mas acabamos por esvair.
fazemos tantas escolhas erradas. tantas. às vezes nem sabemos como as fazemos. culpamos o mundo por girar para o lado errado, culpamos o vento por soprar forte demais, culpamos o sol por nos perturbar a visão. fazemos tantas escolhas erradas que até erramos ao escolher a desculpa. não admitimos a culpa das acções mas, na verdade, nada mais foi que nosso o erro.
o pior de tudo é que nos mutilamos de formas repugnantes e nem sequer nos apercebemos. ao errar mutilas alguém mas suicidas-te. não há pior dor que o saber - não há pior saber que o saber da dor. depois somos capazes de mutilar ainda mais - o que erra, por pedir perdão, arranca todo o seu ser e deixa-o no chão, o que ouviu este pedido mutila-se porque rejeita o pedido, porque foi magoado, quando na verdade tudo fora só uma consequência da vida, perdoável, mas decidiu não perdoar porque ainda não juntou as peças que foram deixadas por quem errou; o problema é se as junta tarde demais, aí mutila-se pela infelicidade de querer mutilar o outro, acabando por se satirizar, por se magoar, por se matar aos poucos...

cada vez mais me sinto morto. de dia para dia caminho para ela e ela sorri para mim. o que é triste é que esta senhora mascara-se, fazendo-se passar por tudo o que mais gostamos até que, um dia, nos diz que tudo não passava de uma ilusão. tornamos tudo complexo para acabarmos todos da mesma forma, simplificados a uma ilusão, a uma ideia errada. se o meu dia desses for amanhã deixo de o ter e estava sempre tão certo que o teria.

se não houver amanhã ficas sem me perceber, não querendo dizer que seria o que querias mas sempre sonhamos em compreender tudo e todos. e eu seria menos um desses todos. apesar do que dizes, não sou igual ao outro ou aos outros. nunca fiz o que fizeram e nunca faria. arrogantemente te digo que também não sou pior porque, se assim o fosse, nem sabias o meu nome, nem acordavas ao meu lado.

se não houver amanhã ficas sem perceber a razão do que te digo, do que te escrevo, de como te penso. é preferível apagar uma imagem da mente do que apagar múltiplos vídeos, filmes, frases, toques, momentos. pode não ser fácil - mas, tal como diria o outro, ninguém disse que o ia ser. vai ser por isso que desistes? então se calhar não te imaginei certo, não pintei bem o quadro, faltou escurecer-te a alma. que erro o meu.

se não houver amanhã ficas com as palavras soltas de um diálogo mudo que nunca aceitaste. como queres evoluir, como queres ser, existir, viver, tudo, sem diálogo, sem saber também os outros lados? não é possível viver apenas com o que sabemos - precisamos do conhecimento dos outros. e eu que nunca te menti, nem sequer tentei dar desculpas, fui sincero.

se não houver amanhã fico sem tudo isto também. não morre um, morre uma unidade. há uma diferença. mas acho que essa só eu vi, no recanto mais sóbrio da minha alma, uma possibilidade ilusória de ser algo quando, na verdade, tu querias ser nada.

se não houver amanhã também não há o eu. fica apenas o tu e nunca mais haverá um nós, seja lá o que isso for. doa o que doer, isso já seria algo, na categoria que fosse.

se não houver amanhã para mim já não há o café.

se não houver amanhã para ti fica só a luz do luar.

se não houver amanhã o sol vai comigo.

se não houver amanhã deixo-te a chuva.


é com este gesto que te mostro o quanto te devo, deixando que a chuva te limpe a alma, te regenere, te recrie.
agora, pergunta ao outro o que faria por ti.

12/06/2015

you-know-who

sono.
o verde da vida esgota-se, esgotas-te com ele e esvais-te lentamente no ser ou no nada. uma escolha, nenhuma opção. o nunca saber o que se escolhe e o escolher errado, lado a lado, nada mais. o ir-se perdendo no sono e o ser levado pelo sono, quase indiferentes, com a sua diferença abismal. mas hoje não é o dia, nunca é o dia, até que chegue o dia em que todos foram...
sonho.
se preto e branco se juntassem tão bem não dariam cinzento, dariam o teu cabelo, os teus olhos, a tua pele. eu faria os lábios, eu faria tudo o resto, eu faria o que fosse preciso, só precisavas de mim. desde que visse esse branco e preto, mas de cinza se torna a mistura, de cinza fico eu e em cinzas fica tudo o resto. afinal o necessário era algo, não o eu, nunca.
insónia.
como sou capaz de ver o mundo se nem a mim me vejo? o sol brilha mas lá está a lua, ditando a minha maré e fazendo a minha infeliz vespertina durar. o que dura o sofrimento, o que dura a espera, que dura espera. mas de dureza se fez tudo e de duro sou feito. se duro neste mundo que duro seja o tormento, que me afaste da facilidade e que me ensine a durar.
sonolência.
e sou visto como um nada, e sou visto como um todo. de nada me encontro e de todo me sofro. empurro o eu e volto à mesma maneira de ser de sempre - o existir de não existir, o fugir de não fugir. o que achas que espero? espero o teu preto e branco de novo, espero pela luz que te crie à minha frente - e finalmente percebo... não fui capaz de te criar, só em pensamento. tão triste o sofrimento...
vivo.

10/06/2015

descodificador

the good.

para quem gosta.


coragem. é a melhor aposta para o amanhã e para o desconhecido. o que é hoje não é amanhã - ou se calhar até é, mas transformado (ou transtornado) - e há que ter uma adaptabilidade máxima ao amanhã. ou então, pensa no hoje.
esta é a parte mais tenebrosa - se hoje não consegues, o que farás amanhã? pois bem, a solução é a mesma: coagem. se gostas corre, se queres consegue- haja confiança na mudança - o sol há de brilhar. esta é a posição ingrata, é a posição da espera e é a posição que mais rápido nos deixa desfeitos - por quem não merece ou por quem merece demais mas ainda não percebeu.

tudo parece não fazer sentido mas a verdade é que impossível é uma palavra que só está no dicionário, ninguém a impinge a ninguém; e se to fizeram, o que é teu teu será por direito, só te deves a ti mesmo tudo o que conseguiste, tudo o que percorreste. isso é ter coragem e ver que hoje é só mais um dia. tudo vai passar, tudo vai melhorar. seja para que solução for.

para quem espera.

a parte mais difícil é esperar. um dia disseram-me que a esperança nunca morre e eu, burro, acreditei e, como já se sabe, a existência mais poderosa de todo o mundo é a ideia; esta eu fixei e já nem sei como a retirar do inner self. ainda por cima, vieram uns gajos quaisquer de outra parte do mundo coma ideia do "don't leave me high, don't leave me dry" e lá fui eu bater no fundo. a espera torna o ser mais forte e, de dia para dia, mais esperançoso, pelo que espera ou pelo que já não sabe que espera. afinal o que espero eu? se calhar só pelo amanhã, se calhar pelo depois; mas se calhar nem vou chegar lá... e ficarei sempre a esperar. há que actuar sobre algo - esse algo vai dar esperança à velha esperança e criar algo novo... uma nova esperança. e espera-se sempre. que tal não esperar? a isso não tenho resposta... ainda não consegui - mas sei de quem o fez, como fez e como correu, porém isso já serão outras conversas... espera também, como eu.



the bad.

para quem mente.

o mundo dá voltas. às vezes, dá voltas e fica igual, outras vezes, dá voltas e muda tudo. às vezes pensa-se que nada importa, que tudo o que se diz é esquecido e que tudo o que se faz nada causa, outras vezes percebemos que a maré mudou. tudo é uma bola de neve - seja das coisas boas, seja das coisas más, seja do sentimento a mais ou a menos, seja do que for - e nós estamos debaixo de uma montanha. quantas vezes já fomos à lama? e fomos por nós ou por outros? e claro, vamos lá pensar que foram os outros. não. fomos por nós e pelo que fizemos. neste caso,  mentira é a pior forma de lá chegar. com ela, ficas sem asas para sair dessa lama e aí ficas, com o karma ao teu lado, a chafurdar-te ainda mais, a rir-se na tua cara. por isso, mente mais, todos sabem que o fazes. não esperes é escapar-te. só te vejo a chafurdar.

para quem difama.

cuidado com o que pedes da vida - ela é ingrata mas pode-te dar precisamente o que pedes. sabes o que pedes? eu explico. tu pedes exactamente aquilo que gozas nos outros. é isso, tu queres ser como os outros, tu queres SER os outros. mas isso não é impossível? conheces a frase 'walk a mile in my shoes'? se calhar é melhor não pedir. há ossos duros de roer, sempre no chão, mas à vista de todos estão sempre bem. isso é superação, é saber o que se tem de ser, o que se tem de fazer, é paciência, é sabedoria. se difamas pedes pelo mesmo... mas sem aprender nada antes. cuidado, mais rápido ficas no chão que voas pelas montanhas. vive a tua vida, não a dos outros. ou aprendes - ou não vives.



the evil.

para ti.


quem és tu? já agora, sabes-me dizer quem sou eu? não? pois eu acho que sei quem és.
é fácil julgar os outros. e a nós próprios? atribuíste facilmente as duas primeiras características a ti, viste situações tuas naquelas frases e talvez tenhas sentido o mesmo que lá está.
e nas outras duas? atribuíste a outros não é?
se calhar é melhor pensar que, afinal, o que mais custa é o mais certo. para que vale andar a pensar nos outros se nem de nós sabemos? porque isto é o que nós somos (pior ainda, somos isto e mais) e isso é impossível negar. no âmago do ser, está tudo feito - uns de modo mais leve, uns de modo mais grave, uns diariamente, outros não tão acentuadamente, mas já fizeram o que ali está. e para quê? para agradar? para ter mais? para ter menos? afinal, não somos nós todos iguais?



se calhar chegou a hora de te melhorares. upgrade that shit. agora, odeia-me à vontade; eu não sei quem tu és, tu não sabes quem eu sou.




(pelo que falamos hoje e não só, pelo que pensamos, por tudo, meu irmão luissi. tu sabes quem eu sou e não é por isso que deste um passo atrás.)

16/01/2015

o super-eu ou um distúrbio de personalidade depressivo

há dias que não são dias.
há meses que não são meses.
há anos que não são anos.
há vidas que não são vidas. (?)

se eu aprendesse realmente não seria quem sou, não estaria como estou porque, na verdade, o aprender é o modificar de paradigmas ou a criação de novos. como me posso reger pelos velhos aprendendo os novos? ou não aprendo ou sou caso único, mas isso não é o interessante.

quando vives preso a ti próprio crias-te a um de três níveis: ou és melhor, ou és mero, ou és a razia ou resto (dependendo das vontades) e, infelizmente, a terceira acerta sempre melhor e reconforta-se no peito com vontade de o desfazer - e desfaz mesmo.

a escória do mundo é a vagabundagem? às vezes não. a escória do mundo é, simplesmente, quem a escolhe ser e quem se deixa ser tal, não pelos outros mas por si próprio e, o mais certo é que, quem o deixa acontecer, poderá não aparentar ser escória alguma mas será certamente um despedaçado de interioridade, de personalidade, do seu eu. tudo isto para quê? para dar importância ao que s acha desse eu - não do próprio eu, mas sim dos outros que o circulam.

isto chama-se


depressão.

não é pelos anos perdidos, é pela vida perdida e pela força que cai por terra e se torna em desapontamento interior, em querer fazer, mudar, tentar, gritar e não arranjar a força para tal. é querer mostrar e não ter ferramentas para isso. é querer tudo e não ser nada.

mas a questão complica-se quando se pergunta 'quem sou eu? o de outrora ou este? quais são as qualidades que tenho? e os defeitos? como me olham? como me olho? será que me sinto? o que sinto? sinto? sou? eu? quem?'

e passam dias.
há dias que não são dias.
há meses que não são meses.
há anos que não são anos.
há vidas que não devem ser vidas.